domingo, 16 de fevereiro de 2014

Quadros de fibra de carbono Low-Price (genéricos, Xing-Ling, Chinarello, etc)

Falemos agora um pouco sobre os tão polêmicos quadros de carbono de baixo preço (low-price), que inundam o nosso mercado ávido por bikes e peças baratas que caibam no orçamento. Estes quadros, denominados também como “genéricos”, “Chinarellos”, “Xing-Lings” entre outros nomes, são constantemente tema de debate em fóruns dedicados ao mundo das bikes. Não é raro deparar-se com opiniões das mais diversas sobre estes produtos. Opiniões baseadas na experiência própria, de amigos ou parentes. O ponto em comum entre elas é que são carregadas de subjetividade.
A única unanimidade entre as diversas opiniões se refere ao preço, principalmente se comprados diretamente do fabricante ou distribuidor chinês. Podemos encontrar quadros de MTB e Speed a partir de 286,00 U$, o que no câmbio de hoje fica em algo como 680,00 R$.
Entretanto preço é, ou ao menos deveria ser apenas mais um dos critérios de escolha na compra de um bem durável, como um quadro. Geralmente quem opta pela compra de um quadro desses se faz valer de outra característica “muito importante”: a beleza!
Some, o preço extremamente atrativo, um produto bonitinho, uma pilha de opiniões baseadas em subjetividades e em afirmações positivas de usuários que ainda não tiveram problema com os seus quadros.....pronto, está feito mais um potencial consumidor de um produto de qualidade duvidosa.
Fervorosos proprietários desse tipo de quadros devem estar querendo a minha cabeça! Ao menos aquela parcela que acha que tem em mãos um produto realmente confiável. Alguns proprietários conscientes sabem que a compra de uma peça dessas é uma questão de sorte, na qual eles resolveram arriscar! E é justamente este o ponto. Não dá para se esperar muita coisa de um quadro barato.
Falo isso com certo conhecimento de causa, pois desde que comecei a reparar quadros feitos em materiais compostos, a quantidade de pessoas que me procuraram buscando reparar seus quadros low-price que apresentaram algum tipo de problema já nas primeiras voltas, foi em um número que me fez levantar sérias suspeitas sobre a qualidade destes produtos. Em determinada peça chegou-se ao cúmulo de na hora de apertar a braçadeira de canote o tubo colapsar, pois a sua parede não era sólida, mostrando a total falta de controle no processo de fabricação, e com certeza a ausência de controle de qualidade do produto finalizado.
Resumindo, um quadro low-price é uma tremenda loteria. Pode durar anos, como pode quebrar na primeira voltinha no quarteirão!
Vale ressaltar que os pedidos de reparo em quadros que apresentam problemas devido à qualidade na fabricação têm a minha negativa para proceder ao conserto. Em primeiro plano vem a segurança do proprietário.

Bons pedais e um abraço.

O que pode ser consertado?

Gostaria de comentar nesta postagem o que considero passível ou não de conserto, quando falamos sobre peças de bicicleta manufaturadas em materiais compostos. Por vezes determinar o que é ou não vantajoso ser reparado fica por conta do cliente, que pesa a relação custo X benefício, no entanto a relação é um pouco mais complexa e acaba englobando mais algumas variáveis. Uma dessas variáveis é relativa ao risco em termos de segurança que a peça repara apresenta frente a uma peça nova. Uma vez que tal variável é de difícil mesuração (na verdade quase impossível) o caminho mais lógico a ser tomado deve ter como prioridade o princípio da precaução.
Fica bem claro ao olharmos uma peça e a forma como ela se apresenta no conjunto da montagem, se ela possui ou não redundância. Em um quadro de geometria padrão (duplo triângulo), se por acaso o top tube venha a falhar, ainda temos o down tube ligando a caixa de direção ao movimento central, assim como no caso dos seat stays e chain stays. Peças como canotes, guidons, mesas e garfos pelo contrário não possuem essa redundância (talvez o garfo até possa ser considerado em parte redundante, no entanto a falha de uma das canelas, provavelmente comprometerá a dirigibilidade severamente). Somado a isso temos ainda que se tratam de peças com custo de aquisição menos “salgado”, comparados a quadros.
Concluindo, caso queira entrar em contato sobre o reparo estrutural de algumas dessas peças (canotes, guidons, mesas, garfos e trilhos de selins) saiba de antemão que as chances de reparo são bastante limitadas. Por exemplo: guidons que sofreram aperto excessivo da mesa considero refugo, já caso a ponta tenha sido avariada ou se queira fazer o aumento do comprimento em um ou dois centímetros (sem uso de bar ends), isso é plenamente possível sem comprometer a segurança.
Bons pedais e um abraço.


Exemplo de peças que devem ser refugadas.